<i>A Luz que Rompe as Trevas</i>
As Edições Avante! publicam A Luz Que Rompe as Trevas, do sul-africano Alex la Guma. É o nono volume da colecção Biblioteca Avante!, que continua a edição de grandes romances mundiais de resistência e luta.
Alex la Guma foi dirigente do PCSA e do ANC
Escrito em 1972, A Luz que Rompe as Trevas retrata a luta heróica dos militantes clandestinos contra o brutal e odioso regime do apartheid. Centrando o enredo em dois homens, Beukes e Elias, o livro vai denunciando as injustiças da vida quotidiana dos negros na África do Sul enquanto a organização clandestina se prepara para a crescente agressividade do governo e da polícia a seu mando.
É a história dos documentos que se tenta distribuir enquanto os habitantes de bairros inteiros são despejados das suas casas, são as reuniões clandestinas que decorrem para que não haja mais velhos a morrer de exaustão no trabalho, é a organização da luta para que a vida não dependa de arbitrárias burocracias num mundo reservado Só para Brancos.
Num contexto adverso, em que denunciantes e provocadores coexistem com a desistência e a resignação, estes combatentes pela liberdade sabem qual é a principal condição para avançar: «Temos de arriscar-nos a falar com as pessoas.» E quando elas responderem que «É a vida, não é?», perguntar-lhes simplesmente «Porque há-de ser essa a nossa vida?». Como explica Beukes, «mesmo que não se consiga o que queremos de um dia para o outro, ou mesmo em pouco tempo, é uma questão de amor-próprio, de dignidade».
Dignidade e luta
Essa mesma dignidade personifica-a Alex la Guma. Nascido em 1925, na Cidade do Cabo, ávido leitor desde muito cedo, entusiasta das grandes conquistas da União Soviética por via do seu pai, James la Guma, ele próprio um dos mais importantes dirigentes dos primórdios do Partido Comunista Sul Africano, é sobretudo através da luta ao lado dos seus companheiros de fábrica que acaba por aderir ao PCSA em 1948. Seria posteriormente um dos 156 acusados no Julgamento por Traição de 1956, que levou praticamente todo o Comité Executivo do ANC (Congresso Nacional Africano) a tribunal.
Esse julgamento seria transformado num espaço de resistência e de acusação ao regime, pois nessas novas condições levou-se a cabo «a maior e mais longa reunião legal da Aliança do Congresso», nas palavras de Nelson Mandela, outro dos acusados. Foi depois desta prisão que Alex la Guma se começou a dedicar à literatura, tendo publicado o seu primeiro conto em 1957. Seria preso várias vezes, tendo posteriormente partido para o exílio, primeiro para o Reino Unido e depois para Cuba, onde viria a falecer em 1985, mantendo até ao fim da vida, mesmo no estrangeiro, responsabilidades na organização do ANC.
Com esta nova publicação, a colecção Biblioteca Avante! procura continuar a cumprir o objectivo que levou à sua criação: «repor a verdade histórica da abnegada e exaltante luta dos comunistas em todo o mundo.» Com autores de oito países e três continentes diferentes já publicados, também na literatura se vai construindo uma terra sem amos.